CELIA C. CAVALCANTI
Célia Cerqueira Cavalcanti. Brasileira, nascida no Rio de Janeiro, filha do poeta, jornalista e advogado Eduardo Reis da Gama Cerqueira e de Carmelita Barcellos Cerqueira, falecidos.
Poetisa e trovadora, desde cedo começou a compor, e vários de seus e trovas têm sido premiados em concursos.
Bancária, aposentada ao término da carreira, foi chefe-de seção nos últimos anos de trabalho.
Membro da União Brasileira de Trovadores.
***
Faleceu em 2003.
ANUÁRIO DE POETAS DO BRASIL. 2º. VOLUME. Organização de Aparício Fernandes. Capa de Ney Damasceno. Rio de Janeiro: Folha Carioca Editora Ltda., 1977. 496 p.
Ex. bibl. Antonio Miranda.
DO INFINITO
Eu gostaria de andar,
e deste mundo chegar,
sem um gesto, sem um grito,
ao infinito...
Eu queria caminhar,
e seguir,
sem chorar
nem sofrer,
sem sentir,
pelo caminho deixando
rosas de luz rebrilhando,
e em plena vida encontrar,
longe da dor e do grito,
a paz, em Deus infinito...
Eu gostaria de andar,
e além, nos céus, descansar
no infinito...
REDENÇÃO
Se a alma vale mais, por ser eterna,
embora esteja presa à vil matéria,
se vale o que sentimos dentro de nós,
ao sermos pela angústia aprisionados,
se temos, afinal, como destino,
a mágoa de sofrermos sempre mais,
olhemos para quantos desgraçados
têm cruzes semelhantes às que temos...
E livres, de nós mesmos libertados,
por Deus, que nos quer bons a cada passo,
na vida caminhemos, pois na morte
acharemos a paz da eterna vida.
ESCALADA DO AZUL
Na solidão ressoa a voz do mar,
que pela noite adentro a dor pranteia,
e branca espuma estende sobre a areia,
no seu dolente e eterno soluçar...
Orla a fimbria do mote a luz do luar,
e lentamente pelo azul vagueia,
qual rainha da noite, a lua cheia,
a terra, tão distante, a contemplar.
O céu o e mar, a luz e o firmamento,
transportam-me no espaço o pensamento,
e eu julgo a terra abandonada e só...
E ao despontar o rosicler da aurora,
suponho alçar-me ainda, azul em fora,
pela escada do sonho de Jacó.
PLENITUDE
Se tudo neste mundo é uma ilusão,
se a própria vida passa num momento,
amparai, Senhor Deus, meu coração,
não me deixeis morrer ao desalento...
E que eu possa elevar meu pensamento,
Deixando as coisas hirtas pelo chão,
sem sombra de passado ou de tormento,
na feliz plenitude do perdão.
Que Vossa luz encontre, finalmente,
tão distante das trevas deste mundo,
em que se agita e sofre toda gente...
Vosso nome bendiga alegremente,
tão distante das trevas deste mundo,
em que se agita e sofre toda gente...
Vosso nome bendiga alegremente;
meu Deus e Pai, que Vosso amor profundo
ilumina minha alma eternamente.
TROVAS
Estende a mão à criança,
dá-lhe ajuda e teu carinho...
é uma rosa de esperança
no mundo feito de espinho...
*
Deus, após criar a terra,
a flor, os frutos, a luz...
com ternura os olhos cerra,
e se transforma em Jesus.
*
Educa sem reprimir,
das crianças, a expansão,
fazendo o jovem seguir
o bem, à luz da razão...
*
Da morte, por que ter medo,
neste mundo enganador?...
a morte é vida... o segredo
é crer em Deus, Salvador.
*
Não haveria fronteira
divisória entre as nações,
se da paz, sempre a bandeira
vibrasse nos corações...
*
Das águas turvas, também,
nascem lírios ao luar...
Da humanidade, algum bem,
decerto deve brotar...
*
Não te orgulhes do saber,
da riqueza ou nascimento...
Deus, no mundo, quis viver
na humildade e sofrimento.
*
Mar azul de minha terra,
espelhas o céu inteiro...
mansamente, ao pé da serra
do meu Rio de Janeiro.
*
Felicidade é tecida
de momentos... de retalhos,
de luz e sombras, a vida,
no mundo cheio de atalhos...
*
A lua, no espaço, é trova
cujo tema é solidão...
lua cheia, ou lua nova,
poesia na amplidão...
*
Diferentes, só na cor:
negros, azuis, verde-mar...
a mesma expressão de amor
as mães revelam no olhar...
*
Ergue a fronte!... É quase nada
a vida, no dia a dia...
pois há sempre uma alvorada
que sucede à noite fria...
*
Ensinemos à criança
a ter amor à verdade,
a Deus, à Pátria, e esperança
no porvir da humanidade.
*
Filhos e netos... estrelas
dos céus à terra descidas...
mães e avós, a bendizê-las,
esquecem dores e lidas...
*
Foi decerto por Mari,
da pureza singular,
que Deus Pai se lembraria
de a flor, ao mundo, criar...
*
Ser poeta é ver a vida
através de tons de luz...
é alma colorida,
é sorrir levando a cruz.
*
De minha mãe, que saudade!...
rogo a Deus revê-la um dia,
mais feliz na eternidade,
aos pés da Virgem Maria...
*
A vida tem melodias,
sons magistrais, de encantar;
o mar, vibrando agonias,
a passarada a cantar...
*
Dos outros, a culpa esquece,
não julgues, em teu caminho...
vê que o sol também aquece,
das rosas, o próprio espinho...
*
Bondade é termos, ao bem,
devoção de puro amor;
no pobre, vendo outro alguém,
irmão em Cristo, o Senhor.
*
Ante a maldade, no mundo,
o pecado, a tentação,
foi que Deus fez tão profundo,
e infinito, Seu perdão...
*
Quem quiser vier sonhando,
tenha cuidado, afinal,
alicerces colocando
nos castelos do ideal...
*
Bodas de prata felizes,
nosso amor comemorou;
deu frutos, criou raízes,
e no tempo se firmou...
*
Ter os netos ao redor,
meus filhos em torno à mesa,
eis a alegria maior,
meu mundo e grande riqueza.
*
VEJA e LEIA também outros poetas do RIO DE JANEIRO em nosso Portal:
http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/rio_de_janeiro/rio_de_janeiro.html
Página publicada em abril de 2021
|